O cenário agora é Pequim e o estilo de artes marciais predominante é na verdade o kung fu, mas a diferença que mais chama a atenção na refilmagem de "Karatê Kid" em relação ao original é a faixa etária do protagonista: no lugar do Ralph Macchio adolescente do filme de 1984, o novo longa-metragem é protagonizado por Jaden Smith, filho do astro Will Smith, um garoto sequer chegado à puberdade. A mudança pode parecer irrelevante, mas causa impacto já nas cenas iniciais, quando vemos Dre Parker, o menino de 12 anos que ele interpreta na produção, sendo espancado com violência e brutalidade costumeiramente reservadas nas telonas a atores bem mais velhos.
O novo "Karatê Kid" mantém basicamente a mesma história que fez do filme original um ícone pop há quase 30 anos, mas vai mais longe geograficamente. O jovem Dre se muda com a mãe (Taraji Henson) para a China, mas logo no primeiro dia esbarra com um grupo de valentões lutadores de kung fu que não vão nem um pouco com a sua cara. Ameaçado, ele encontra ajuda inesperada na figura do zelador de seu prédio, Mr. Han (Jackie Chan, no papel correspondente ao do Sr. Miyagi, que foi de Pat Morita). Além de salvá-lo de uma surra terrível, ele vai guiar Dre com lições de artes marciais e de vida que ajudarão o garoto a combater os algozes em seu próprio terreno.
Como Dre, o longa também encara um desafio, este comum a toda refilmagem: evitar parecer um clichê do original. Uma das táticas escolhidas pelo diretor Harald Zwart (de "A Pantera Cor de Rosa 2") é adotar um registro de documentário, estilo câmera na mão, que confere mais naturalidade e, em certa medida, intimidade com o espectador. As cenas de ação também recebem tratamento caprichado: há sequências de perseguição dignas de thriller e fortes imagens de violência com direito a socos e quedas em câmera lenta.
Por se tratar de um filme-família, naturalmente, não se veem adultos batendo em crianças - a cena em que Mr. Han salva Dre da gangue, por exemplo, vira uma espécie de pastelão, com Chan fazendo as crianças vilãs baterem umas nas outras. A única exceção é um tapa aplicado pelo mestre da academia da gangue como punição a um de seus alunos, e que deixa claro que a violência algo que as crianças aprendem com os adultos.
Como contraponto à violência, o filme traz algumas belas transições de cena, ligações e metáforas visuais. Exemplos disso são o jogo de sombras que marcam tanto uma cena romântica (!) entre Dre e a jovem Meiying (Wenwen Han) quanto outra em que Mr. Han se recupera de lembranças dolorosas do passado treinando com o garoto. Os novos cenários chineses também dão um sopro de novidade ao filme, que exibe alguns cartões postais com evidente propósito de divulgação - numa cena desnecessária, Dre e Mr. Han aparecem treinando na Muralha da China -, mas também mostra becos sujos, cheios de gente e velharias.
Outras escolhas se revelam contraditórias ou erradas. A trilha sonora, digna dos filmes mais comerciais, estraga a naturalidade das cenas. E ao tentar aprofundar o papel de Mr. Han, dando a ele um passado trágico, o filme esbarra numa atuação sofrível de Jackie Chan nas cenas dramáticas. O astro das comédias de ação também não consegue dar a dignidade necessária ao seu personagem, parecendo meio abobado na maior parte da narrativa. Jaden exibe mais carisma e convence nas cenas mais importantes, mas não consegue carregar o filme inteiro nas costas.
O filme segue, aos trancos, para chegar ao clímax: o embate entre mocinho e vilões num torneio de kung fu. Trata-se do momento mais esperado desde o anúncio da refilmagem, e o filme atende aos anseios do espectador com novos socos, chutes e pontapés (mas nenhum sangue). Por fim, Dre reencena o milagre de praxe e derrota o vilão com a perna quase quebrada.
Mas talvez o mais inacreditável no final seja o comportamento da mãe: mesmo vendo o filho de 12 anos ser espancado sem dó nem piedade e o estrago causado depois, ela vibra quando ele volta ao ringue. Isso explica de uma vez o fato de "Karatê Kid" ter sido feito na China: nos EUA ou qualquer país ocidental, ela e Mr. Han iriam direto para a cadeia.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Festival traz ópera francesa a Manaus
Acompanhando as comemorações pelo Ano da França no Brasil, o Festival Amazonas de Ópera (FAO) vai celebrar a tradição operística francesa em sua 13ª edição, a ser realizada de 23 de abril a 31 de maio, em Manaus. A programação traz cinco óperas – quatro delas a serem montadas na íntegra – e um oratório dramático, além de recitais e conferências sobre a música francesa.
Em sua mais cara edição até hoje – com orçamento de R$ 8 milhões, de acordo com a Secretaria de Estado de Cultura –, o festival vai oferecer ao público um panorama abrangente da ópera francesa. “Sansão e Dalila”, de Camille Saint-Saëns, marca a abertura do evento no dia 23 de abril, com reapresentações nos dias 26 e 28. “Pélleas et Mélisande”, de Claude Debussy, será apresentada em versão concerto nos dias 25 e 27 de abril.
Em maio, serão apresentadas as montagens de “Le Cid”, de Jules Massenet (dias 5, 7 e 10); “Diálogos das Carmelitas”, de Francis Poulenc (13, 15 e 17); e “Os troianos”, de Hector Berlioz (24, 26 e 28). O encerramento do festival será com o oratório dramático “Joana D'Arc na fogueira”, de Arthur Honegger, no dia 31.
Ensaios
Os preparativos para o festival iniciaram há cerca de três semanas, com as primeiras leituras das peças musicais pelos instrumentistas da Orquestra Amazonas Filarmônica (OAF). Alguns artistas convidados já estão ou estiveram na capital amazonense para iniciar os trabalhos – caso do maestro francês Laurent Campellone, responsável pela regência de “Os troianos”, que esteve na cidade há uma semana para uma curta e intensiva série de ensaios.
Outros artistas franceses participam das montagens, à frente ou nos bastidores das montagens, ao lado de outros brasileiros e internacionais. A apresentação de “Pélleas et Mélisande”, por exemplo, trará um elenco de artistas franceses nos papéis principais, sob a regência do maestro e diretor artístico do evento, Luiz Fernando Malheiro.
A montagem de “Le Cid” será dirigida pelo francês Frédèrique Lombart, com cenários e figurinos dos brasileiros Renato Theobaldo e Marcelo Marques, respectivamente. Campellone, citado acima, vai reger um elenco que inclui, entre outros, o tenor norte-americano Michael Hendrick, o barítono francês Jean-Luc Chaignaud e a mezzo-soprano brasileira Denise de Freitas.
Ousadia
Entre os destaques do programa está “Os troianos”, verdadeiro tour de force musical no estilo das óperas wagnerianas, tendo aproximadamente cinco horas de duração. Também promete chamar atenção a montagem de “Sansão e Dalila”, que terá direção cênica de Emilio Sagi, prestigiado diretor espanhol atualmente à frente do Teatro Arriaga, na Espanha.
Entre os artistas brasileiros que já participaram em outras edições do FAO, estão Willian Pereira, que será responsável pela direção cênica e cenários de “Diálogos das Carmelitas”; Olintho Malaquias, figurinista de “Os troianos”; e Caetano Vilela, diretor cênico e iluminador de “Os troianos”.
Confira a programação completa do evento abaixo:
“Sansão e Dalila”, de Camille Saint-Saëns
Dias 23, 26 e 28 de abril, no Teatro Amazonas
Elenco: Michael Hendrick, tenor (EUA). Nancy Fabiola-Herrera, mezzo-soprano (Espanha). Jean-Philippe Lafont, barítono (França). Savio Sperandio, baixo (Brasil). Jérôme Varnier, baixo (França). Éric Herrero, tenor (Brasil). Adriano DiSidney, barítono (Brasil). Leandro Lacava, tenor (Brasil).
Participação do Coral do Amazonas e da Companhia de Dança do Amazonas.
Direção musical e regência: Luiz Fernando Malheiro (Brasil)
Direção cênica: Emilio Sagi (Espanha)
Cenários: Leonardo Ceolin (Argentina/Brasil)
Iluminação: Caetano Vilela (Brasil)
Figurinos: Olintho Malaquias (Brasil)
Coreografia: Jorge Garcia (Brasil)
Ciclo de “Melodies” – Recitais de canto e piano
Dias 24, 27 e 30 de abril, no Centro Cultural Palácio da Justiça
Artistas: Carmen Monarcha, soprano (Brasil). Pauline Courtin e Isabelle Sabrié sopranos (França). Yann Beuron, tenor (França). Jean-Philippe Lafont, barítono (França). José Antônio Soares e Fabricio Claussen, barítonos (Brasil). Jérôme Varnier, baixo (França). Gilberto Tinetti e Jeff Cohen, pianos.
“Pélleas et Mélisande”, de Claude Debussy (versão concerto)
Dias 25 e 27 de abril, no Teatro Amazonas
Elenco: Jérôme Varnier, baixo (França). Yann Beuron, tenor (França). Jean-Philippe Lafont, barítono (França). Mireille Delunsch, soprano (França). Pauline Courtin, soprano (França). Nadine Denize, mezzo-soprano (França). Murilo Neves, baixo (Brasil). Saulo Javan, baixo (Brasil).
Participação do Coral do Amazonas.
Direção musical e regência: Luiz Fernando Malheiro (Brasil)
“Le Cid”, de Jules Massenet
Dias 5, 7 e 10 de maio, no Teatro Amazonas
Elenco: Eliane Coelho, soprano (Brasil). Carmen Monarcha, soprano (Brasil). Francisco Casanova, tenor (República Dominicana). Sávio Sperandio, baixo (Brasil). Adriano DiSidney, barítono (Brasil). Saulo Javan, baixo (Brasil). Fabricio Claussen, barítono (Brasil). Fabricio Claussen, barítono (Brasil). Leandro Lacava, tenor (Brasil). Murilo Neves, baixo (Brasil).
Participação do Coral do Amazonas e da Companhia de Dança do Amazonas.
Direção musical e regência: Luiz Fernando Malheiro (Brasil)
Direção cênica: Frédèrique Lombart (França)
Cenários: Renato Theobaldo (Brasil)
Iluminação: Caetano Vilela (Brasil)
Figurinos: Marcelo Marques (Brasil)
“Diálogos das Carmelitas”, de Francis Poulenc
Dias 13, 15 e 17 de maio, no Teatro Amazonas
Elenco: Adriane Queiroz, soprano (Brasil). José Antônio Soares, barítono (Brasil). Alexander Swan, tenor (França). Pauline Courtin, soprano (França). Nadine Denize, contralto (França). Isabelle Sabrié, soprano (França). Eugenie Grunewald, mezzo-soprano (Estados Unidos). Elaine Martorano, contralto (Brasil). Éric Herrero, tenor (Brasil). Carolina Faria, mezzo-soprano (Brasil). Adriano DiSidney, barítono (Brasil). Geilson Santos, tenor (Brasil). Fabricio Claussen, barítono (Brasil). Elli Soares, barítono (Brasil). Jair Jr., barítono (Brasil). Alex Herculano, barítono (Brasil).
Participação do Coral do Amazonas.
Direção musical e regência: Marcelo de Jesus (Brasil)
Direção cênica e cenários: Willian Pereira (Brasil)
Cenários: Roberto Holnik (Brasil)
Iluminação: Caetano Vilela (Brasil)
Figurinos: Marcelo Marques (Brasil)
Debates e conferências sobre a música francesa nos séculos 20 e 21 – Sua influência nos compositores e intérpretes brasileiros
Dias 14 a 23 de maio, no Centro Cultural Palácio da Justiça
Com os compositores Almeida Prado e Jorge Antunes (Brasil), e Thierry Escaich e David Alagna (França).
“Os troianos”, de Hector Berlioz
Dias 24, 26 e 28 de maio, no Teatro Amazonas
Elenco: Michael Hendrick, tenor (Estados Unidos). Jean-Luc Chaignaud, barítono (França). Fabricio Claussen, barítono (Brasil). Sávio Sperandio, baixo (Brasil). Geilson Santos, tenor (Brasil). Manuela Freua, soprano (Brasil). Marquita Lister, soprano (Estados Unidos). Denise de Freitas, mezzo-soprano (Brasil). Kismara Pessatti, contralto (Brasil). Leandro Lacava, tenor (Brasil). Murilo Neves, baixo (Brasil). Eli Soares, baixo (Brasil). Saulo Javan, baixo (Brasil). José Humberto Vieira, tenor (Brasil). Eli Soares, baixo (Brasil). Adriano DiSidney, barítono (Brasil). Saulo Javan, baixo (Brasil). Eraldo Auzier, baixo (Brasil). Jaiana Souza da Silva (Brasil). Carolina Faria, mezzo-soprano (Brasil).
Participação do Coral do Amazonas e da Companhia de Dança do Amazonas.
Direção musical e regência: Laurent Campellone (França)
Direção cênica e iluminação: Caetano Vilela (Brasil)
Cenários: Renato Rebouças (Brasil)
Figurinos: Olintho Malaquias (Brasil)
Coreografia: Jorge Garcia (Brasil)
Oratório cênico “Joana d’Arc na fogueira”, de Arthur Honegger
Dia 31 de maio, no Largo de São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas
Artistas: Carmen Monarcha e Manuela Freua, sopranos (Brasil). Elaine Martorano, contralto (Brasil). Geilson Santos, tenor (Brasil). José Antonio Soares, baixo (Brasil).
Participação do Coral Infantil, do Coral do Amazonas e da Companhia de Dança do Amazonas.
Direção musical e regência: Luiz Fernando Malheiro (Brasil)
Em sua mais cara edição até hoje – com orçamento de R$ 8 milhões, de acordo com a Secretaria de Estado de Cultura –, o festival vai oferecer ao público um panorama abrangente da ópera francesa. “Sansão e Dalila”, de Camille Saint-Saëns, marca a abertura do evento no dia 23 de abril, com reapresentações nos dias 26 e 28. “Pélleas et Mélisande”, de Claude Debussy, será apresentada em versão concerto nos dias 25 e 27 de abril.
Em maio, serão apresentadas as montagens de “Le Cid”, de Jules Massenet (dias 5, 7 e 10); “Diálogos das Carmelitas”, de Francis Poulenc (13, 15 e 17); e “Os troianos”, de Hector Berlioz (24, 26 e 28). O encerramento do festival será com o oratório dramático “Joana D'Arc na fogueira”, de Arthur Honegger, no dia 31.
Ensaios
Os preparativos para o festival iniciaram há cerca de três semanas, com as primeiras leituras das peças musicais pelos instrumentistas da Orquestra Amazonas Filarmônica (OAF). Alguns artistas convidados já estão ou estiveram na capital amazonense para iniciar os trabalhos – caso do maestro francês Laurent Campellone, responsável pela regência de “Os troianos”, que esteve na cidade há uma semana para uma curta e intensiva série de ensaios.
Outros artistas franceses participam das montagens, à frente ou nos bastidores das montagens, ao lado de outros brasileiros e internacionais. A apresentação de “Pélleas et Mélisande”, por exemplo, trará um elenco de artistas franceses nos papéis principais, sob a regência do maestro e diretor artístico do evento, Luiz Fernando Malheiro.
A montagem de “Le Cid” será dirigida pelo francês Frédèrique Lombart, com cenários e figurinos dos brasileiros Renato Theobaldo e Marcelo Marques, respectivamente. Campellone, citado acima, vai reger um elenco que inclui, entre outros, o tenor norte-americano Michael Hendrick, o barítono francês Jean-Luc Chaignaud e a mezzo-soprano brasileira Denise de Freitas.
Ousadia
Entre os destaques do programa está “Os troianos”, verdadeiro tour de force musical no estilo das óperas wagnerianas, tendo aproximadamente cinco horas de duração. Também promete chamar atenção a montagem de “Sansão e Dalila”, que terá direção cênica de Emilio Sagi, prestigiado diretor espanhol atualmente à frente do Teatro Arriaga, na Espanha.
Entre os artistas brasileiros que já participaram em outras edições do FAO, estão Willian Pereira, que será responsável pela direção cênica e cenários de “Diálogos das Carmelitas”; Olintho Malaquias, figurinista de “Os troianos”; e Caetano Vilela, diretor cênico e iluminador de “Os troianos”.
Confira a programação completa do evento abaixo:
“Sansão e Dalila”, de Camille Saint-Saëns
Dias 23, 26 e 28 de abril, no Teatro Amazonas
Elenco: Michael Hendrick, tenor (EUA). Nancy Fabiola-Herrera, mezzo-soprano (Espanha). Jean-Philippe Lafont, barítono (França). Savio Sperandio, baixo (Brasil). Jérôme Varnier, baixo (França). Éric Herrero, tenor (Brasil). Adriano DiSidney, barítono (Brasil). Leandro Lacava, tenor (Brasil).
Participação do Coral do Amazonas e da Companhia de Dança do Amazonas.
Direção musical e regência: Luiz Fernando Malheiro (Brasil)
Direção cênica: Emilio Sagi (Espanha)
Cenários: Leonardo Ceolin (Argentina/Brasil)
Iluminação: Caetano Vilela (Brasil)
Figurinos: Olintho Malaquias (Brasil)
Coreografia: Jorge Garcia (Brasil)
Ciclo de “Melodies” – Recitais de canto e piano
Dias 24, 27 e 30 de abril, no Centro Cultural Palácio da Justiça
Artistas: Carmen Monarcha, soprano (Brasil). Pauline Courtin e Isabelle Sabrié sopranos (França). Yann Beuron, tenor (França). Jean-Philippe Lafont, barítono (França). José Antônio Soares e Fabricio Claussen, barítonos (Brasil). Jérôme Varnier, baixo (França). Gilberto Tinetti e Jeff Cohen, pianos.
“Pélleas et Mélisande”, de Claude Debussy (versão concerto)
Dias 25 e 27 de abril, no Teatro Amazonas
Elenco: Jérôme Varnier, baixo (França). Yann Beuron, tenor (França). Jean-Philippe Lafont, barítono (França). Mireille Delunsch, soprano (França). Pauline Courtin, soprano (França). Nadine Denize, mezzo-soprano (França). Murilo Neves, baixo (Brasil). Saulo Javan, baixo (Brasil).
Participação do Coral do Amazonas.
Direção musical e regência: Luiz Fernando Malheiro (Brasil)
“Le Cid”, de Jules Massenet
Dias 5, 7 e 10 de maio, no Teatro Amazonas
Elenco: Eliane Coelho, soprano (Brasil). Carmen Monarcha, soprano (Brasil). Francisco Casanova, tenor (República Dominicana). Sávio Sperandio, baixo (Brasil). Adriano DiSidney, barítono (Brasil). Saulo Javan, baixo (Brasil). Fabricio Claussen, barítono (Brasil). Fabricio Claussen, barítono (Brasil). Leandro Lacava, tenor (Brasil). Murilo Neves, baixo (Brasil).
Participação do Coral do Amazonas e da Companhia de Dança do Amazonas.
Direção musical e regência: Luiz Fernando Malheiro (Brasil)
Direção cênica: Frédèrique Lombart (França)
Cenários: Renato Theobaldo (Brasil)
Iluminação: Caetano Vilela (Brasil)
Figurinos: Marcelo Marques (Brasil)
“Diálogos das Carmelitas”, de Francis Poulenc
Dias 13, 15 e 17 de maio, no Teatro Amazonas
Elenco: Adriane Queiroz, soprano (Brasil). José Antônio Soares, barítono (Brasil). Alexander Swan, tenor (França). Pauline Courtin, soprano (França). Nadine Denize, contralto (França). Isabelle Sabrié, soprano (França). Eugenie Grunewald, mezzo-soprano (Estados Unidos). Elaine Martorano, contralto (Brasil). Éric Herrero, tenor (Brasil). Carolina Faria, mezzo-soprano (Brasil). Adriano DiSidney, barítono (Brasil). Geilson Santos, tenor (Brasil). Fabricio Claussen, barítono (Brasil). Elli Soares, barítono (Brasil). Jair Jr., barítono (Brasil). Alex Herculano, barítono (Brasil).
Participação do Coral do Amazonas.
Direção musical e regência: Marcelo de Jesus (Brasil)
Direção cênica e cenários: Willian Pereira (Brasil)
Cenários: Roberto Holnik (Brasil)
Iluminação: Caetano Vilela (Brasil)
Figurinos: Marcelo Marques (Brasil)
Debates e conferências sobre a música francesa nos séculos 20 e 21 – Sua influência nos compositores e intérpretes brasileiros
Dias 14 a 23 de maio, no Centro Cultural Palácio da Justiça
Com os compositores Almeida Prado e Jorge Antunes (Brasil), e Thierry Escaich e David Alagna (França).
“Os troianos”, de Hector Berlioz
Dias 24, 26 e 28 de maio, no Teatro Amazonas
Elenco: Michael Hendrick, tenor (Estados Unidos). Jean-Luc Chaignaud, barítono (França). Fabricio Claussen, barítono (Brasil). Sávio Sperandio, baixo (Brasil). Geilson Santos, tenor (Brasil). Manuela Freua, soprano (Brasil). Marquita Lister, soprano (Estados Unidos). Denise de Freitas, mezzo-soprano (Brasil). Kismara Pessatti, contralto (Brasil). Leandro Lacava, tenor (Brasil). Murilo Neves, baixo (Brasil). Eli Soares, baixo (Brasil). Saulo Javan, baixo (Brasil). José Humberto Vieira, tenor (Brasil). Eli Soares, baixo (Brasil). Adriano DiSidney, barítono (Brasil). Saulo Javan, baixo (Brasil). Eraldo Auzier, baixo (Brasil). Jaiana Souza da Silva (Brasil). Carolina Faria, mezzo-soprano (Brasil).
Participação do Coral do Amazonas e da Companhia de Dança do Amazonas.
Direção musical e regência: Laurent Campellone (França)
Direção cênica e iluminação: Caetano Vilela (Brasil)
Cenários: Renato Rebouças (Brasil)
Figurinos: Olintho Malaquias (Brasil)
Coreografia: Jorge Garcia (Brasil)
Oratório cênico “Joana d’Arc na fogueira”, de Arthur Honegger
Dia 31 de maio, no Largo de São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas
Artistas: Carmen Monarcha e Manuela Freua, sopranos (Brasil). Elaine Martorano, contralto (Brasil). Geilson Santos, tenor (Brasil). José Antonio Soares, baixo (Brasil).
Participação do Coral Infantil, do Coral do Amazonas e da Companhia de Dança do Amazonas.
Direção musical e regência: Luiz Fernando Malheiro (Brasil)
sábado, 31 de janeiro de 2009
'A cidade ilhada' de Milton Hatoum
Escritor amazonense de maior projeção no cenário mundial da atualidade, ganhador de alguns dos mais importantes prêmios da literatura em língua portuguesa, Milton Hatoum voltará em breve aos estandes de lançamentos das livrarias com "A cidade ilhada". A obra será a primeira coletânea de contos do autor, que tem na bagagem quatro romances, entre eles "Relato de um certo Oriente", com o qual estreou na cena literária brasileira em 1990.
"A cidade ilhada", a sair após o Carnaval pela Cia. das Letras, com fotografia de capa de Luiz Braga, reúne 14 narrativas curtas de Hatoum, escritas de 1990 aos dias atuais. Seis delas são inéditas; outras oito, publicadas anteriormente em jornais e revistas literárias, foram reescritas especialmente para o novo livro, algumas de forma tão drástica que ganharam até novos títulos – caso de "Natureza ri da cultura", nova versão de um conto publicado originalmente na "Revista da USP" como "Reflexão sobre uma viagem sem fim".
"Natureza ri da cultura" é o conto mais antigo da seleção. O mais recente se intitula "Dançarinos da última noite", e foi publicado anteriormente na extinta revista "Entrelivros". Em algum ponto entre os dois escritos estão, entre outros, "Varandas da Eva", "Uma carta de Bancroft", "Bárbara no inverno" e "Encontros na península" – este definido por Hatoum como um "conto machadiano", cheio de referências à obra de Machado de Assis.
As cidades amazônicas são o cenário comum a todos os romances de Hatoum. Seus contos, por sua vez, são ambientados em diversos lugares do mundo, entre eles Rio de Janeiro, Bombaim, Berkeley e Palo Alto (ambas na Califórnia), Paris. "Mas o ponto de partida ou de chegada é Manaus", destaca o escritor.
Além do já citado "Relato de um certo Oriente", Milton Hatoum é autor de "Dois irmãos" (2000), "Cinzas do Norte" (2005) e "Órfãos do Eldorado" (2007). Pelas três primeiras obras ele recebeu o prêmio Jabuti, mais importante premiação literária brasileira. Foi ganhador ainda dos prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Bravo! e Portugal Telecom.
Ainda este ano, o escritor espera lançar um livro de crônicas, que incluirá textos publicados em jornais como "O Estado de S. Paulo" e "A Crítica".
Confira abaixo a íntegra de uma entrevista concedida pelo escritor ao jornal "A Crítica" em sua residência em Manaus, no último dia 23. Nela ele fala, entre outros assuntos , sobre "A cidade ilhada", sobre a publicação "tardia" de uma coletânea de contos, sobre seu processo de criação, sobre seus autores prediletos e sobre suas preocupações com o que ocorre no mundo e no Brasil.
***
Você estará lançando em breve um livro de contos chamado "A cidade ilhada", é isso?
É na verdade uma coletânea de 14 contos. Oito deles já tinham sido publicados, alguns no Brasil, outros no exterior, e outros seis são inéditos. Mas, mesmo os já publicados foram reescritos, e posso considerar inéditos. Até o título de alguns eu mudei.
Qual o intervalo entre mais antigo e o mais recente?
O primeiro é de 1990, é um conto chamado "Reflexão sobre uma viagem sem fim", que foi publicado na "Revista da USP" e em várias antologias no exterior, na Alemanha, nos Estados Unidos, na França. Depois, o título mudou para "Viagem sem fim" e agora, neste livro, o título é "Natureza ri da cultura". Já o último se chama "Dançarinos da última noite", que foi originalmente publicado como uma crônica na revista "Entrelivros", mas achei que podia transformar num conto, então reescrevi e incluí no livro. E tem um muito recente, totalmente inédito, foi lido num simpósio internacional sobre Machado de Assis no Masp, em agosto. Fui convidado a fazer uma saudação ao Machado, e em vez de fazer algo solene, fiz um conto machadiano, com referências a ele, que se chama "Encontros na península".
Por que você achou necessário reescrever alguns contos?
Quando eu reli os que já haviam sido publicados – e por isso não releio romances –, achei que podia melhorá-los, dar mais concisão, mais cor.
O título "A cidade ilhada" é uma referência metafórica a Manaus, ou apenas o nome de um dos contos?
Tem um conto chamado "A casa ilhada", então o título não é o nome de um dos contos. Pode ser Manaus, pode ser a vida dos personagens, ou na verdade qualquer cidade. Mas a primeira cidade que vem à memória dos leitores é Manaus. Que ainda é, geograficamente, uma cidade ilhada por rios, florestas. E péssimas estradas.
Há uma linha comum ou fio condutor entre os textos?
Os contos, de alguma forma, dialogam com os romances, todos os quatro. Há alguns personagens dos livros que aparecem nos contos, ou às vezes há uma afinidade espacial, temática. Mas tentei trabalhar com a ideia do conto moderno, que não opera com uma surpresa final, como era o conto do século 19. O conto moderno, do século 20, narra duas histórias paralelas e, no fim, revela o significado oculto de uma das duas histórias. Você começa contando uma coisa que não é aquilo que você quer narrar, como se houvesse uma história narrada que é retrabalhada numa outra história, que é a que você quer trabalhar.
É também uma forma de surpresa para o leitor.
Sim, porque nesse processo de histórias paralelas se revela uma coisa importante.
E as histórias falam sobre o quê?
A editora que escreveu a orelha do livro falou que os narradores são viajantes. As histórias se passam no Rio de Janeiro, Paris, Palo Alto e Berkeley, na Califórnia, Bombaim, mas o ponto de partida ou de chegada é Manaus. Há um espaço mais ou menos difuso dos contos, eles não acontecem inteiramente no Amazonas, talvez dois ou três sim, mas os outros são narrativas "viajantes", que apontam para outros lugares, outras cidades, outras situações e realidades fora de Manaus. Quando reescrevi, tentei adensar essas narrativas, e o segredo é esse. O Tchekov dizia que quando você escreve um conto, tem de reler, suprimir o começo e o fim e deixar o miolo. Ele tem de manter a tensão e a atenção, tem de tensionar o tempo todo os personagens, as situações e conflitos.
Não sei se digo algo errado, mas o conto parece ser o caminho mais natural do desenvolvimento de um escritor. Foi diferente com você, que escreveu quatro romances antes de publicar este primeiro livro de contos. Como foi sua trajetória, nesse sentido?
Fui na contramão da carreira da maioria dos escritores, que começam publicando contos. Comecei, também, publicando contos, nos anos 70, mas não publiquei. Ainda bem, porque eram imprestáveis. Depois achei que tinha assunto e escrevi "Relato de um certo oriente". Curiosamente, abandonei a idéia de um livro de contos. Eles foram saindo, mas mais a pedido de jornais. Escrevi dois para o "Caderno 2" do "Estadão", outro para uma revista francesa, que saiu numa coletânea pela Gallimard. De fato, eu não tinha como objetivo sentar e escrever um livro de contos, eles foram acontecendo, sem nenhuma periodicidade.
Também me parece que desde o lançamento do "Relato", o tempo entre os lançamentos de seus livros vem diminuindo. Você vem se dedicando mais a escrever, é isso?
Estou amadurecendo, eu acho! (risos) Mas se for ver, o livro de contos já está na maioridade, tem mais de 18 anos. Mas não estou mais rápido, não acredito nisso. O "Órfãos do Eldorado" escrevi em dois anos porque tinha assinado um contrato para terminar, fui pressionado para concluir. Tinha de entregar, consegui visualizar o livro e me dediquei integralmente a ele. Como não é também uma ficção muito longa, tem cem páginas, pude me concentrar e ir até o fim.
Em termos de tempo, escrever contos sem dúvida é mais fácil, mas dá para comparar a dificuldade entre escrever um conto ou um romance?
São gêneros muito diferentes. O romance pede muitas digressões, um texto extenso, e um desdobramento de conflitos e personagens que são inadequados ao conto, exatamente por este ser uma forma concisa. Ele é breve, trabalha a tensão e o significado. O Julio Cortázar tem uma bela definição: ele diz que o conto é uma fotografia, e o romance, um filme. O conto, ele fala, é como uma pequena esfera perfeita, que encerra um significado e uma tensão permanentes. Acho que um dos grandes mestres do conto foi o Machado, que foi o primeiro contista que li na juventude, numa coleção que até ainda está na minha casa. É de 1957, o famoso "Clássicos Jackson", de capa dura, hoje se encontra em qualquer sebo por uma bagatela, mas era uma coisa linda na época. A fonte era em tamanho grande, dava prazer de se ler.
Além de Machado e Cortázar, que outros escritores você considera fundamentais no gênero conto?
Maupassant foi um mestre no conto. Edgar Allan Poe, que criou o conto policial. O Jorge Luis Borges é um contista excepcional, porque inovou a narrativa breve na América Latina. Guimarães Rosa tem contos extraordinários. A Katherine Mansfield é outra mestra. Joyce escreveu "Os dublinenses", que para mim é uma das obras fundamentais dele. O Tchekov tem contos geniais, quem quer escrever contos tem de ler o Tchekov, o Machado, os clássicos do século 19.
Quando você está no processo de escrever um conto, essa herança de todos os que vieram antes fica pairando na sua mente?
Às vezes até mais que isso, eles entram na minha cabeça mesmo. Por exemplo, o conto machadiano "Encontros na península", tem inclusive referências aos contos de Machado. O conto é uma indagação sobre a qual conto de Machado o meu está se referindo. É um conto dentro de um conto – não gosto de chamar de "intertextualidade", pois vão me chamar de esnobe, e eu não gosto disso, então pode tirar esse "palavrão", ou jargão da teoria literária.
Além dos contistas, que outros autores estão nos seus livros de cabeceira? E também, da nova geração, quem você destaca?
Dos estrangeiros, descobri um narrador muito bom, que já morreu há mais de 60 anos, Sándor Marai, húngaro, que tem um romance chamado "As brasas". Só agora ele está sendo traduzido no Brasil.Gosto muito também de um autor alemão chamado W. Sebald, li dois romances dele, são meio proustianos, falam da memória, "Os imigrantes" e "Austerlitz".
Acho também que finalmente o Brasil descobriu e traduziu um autor de que sempre gostei, Roberto Bolaños, que considero o autor latino-americano mais importante da minha geração. Li quase tudo dele. Tem um livro de contos chamado "Putas assassinas" que é maravilhoso. Ele morreu jovem, foi um expatriado, deixou o Chile para morar no México, depois foi morar na Europa. Seus personagens vivem em trânsito, são sempre poetas, muitas vezes não-realizados, e o sentimento de exílio, de expatriação, é muito forte na obra dele.
Também há os autores portugueses, como o Gonçalo Tavares, até escrevi uma orelha de um livro dele que saiu agora.
E dentre os brasileiros?
Dos mais jovens, gosto muito do Bernardo Carvalho. Li recentemente também o romance de uma moça bem jovem, "A chave de casa", de Tatiana Levy. E gostei. Mas não consigo acompanhar muita coisa, na verdade.
Como é sua rotina de trabalho como escritor? Você tem o que se chama "inspiração"?
Tenho primeiro de cumprir minhas obrigações de escrever crônicas para o Terra Magazine e para o "Caderno 2" do "Estado de São Paulo". Com inspiração ou não, tenho de fazer. Mas é curioso: um conto surge como uma febre, você não sabe quando vem, que tipo de infecção é. Surge a ideia, e você tem de escrever. Ele é incondicional, não pode ser adiado. Se você tem uma ideia delineada, tem de tentar. Talvez nem seja nada, talvez seja uma crônica, ou só uma ideia, e literatura não se faz de ideias. O conto é o que o Manuel Bandeira chamava de "alumbramento", um belo nome que ele dava para a inspiração. A inspiração, acho, é uma outra forma de dizer "desejo de escrever". Quando você tem desejo de escrever, está inspirado. Quando empaca muito, é melhor fazer outra coisa, e esperar que surja esse "alumbramento".
Como você lida com a tecnologia – o boom de informações, a Internet, geladeiras que falam?...
Sou um péssimo internauta, trabalho para portais, mas não sou um navegador – é assim que se diz? – compulsivo. Mas em situações que merecem uma análise da realidade mais profunda e menos parcial, vou à Internet. Por exemplo, quando o assunto é o Oriente Médio, quero ler o "Le Monde Diplómatique", pois lá sei que não vão chamar os palestinos de terroristas. Sei que muitos intelectuais acreditam que existe terrorismo de Estado, que é mais nocivo e devastador. Se eu quiser saber mais de política americana, não vou ler o "Washington Post", vou ler o "The Nation".
E sobre os escândalos da política nacional? Pode-se confiar nos jornais de forma geral?
Isso está em todos os jornais. Mas a grande mídia, penso, não gosta do Lula, porém ele tem uma aceitação tão grande que não sei se está preocupado com isso. Para o Amazonas, ele tem sido um presidente no mínimo atencioso – dos últimos, ele foi mais. Ele conhece o Amazonas, conhece o Acre, as mulheres catadoras de babaçu no Maranhão. Mas há tantos escândalos que a gente não se impressiona mais. O triste, para mim, não é a política nacional, é ver o banqueiro Daniel Dantas ser solto pelo presidente do Supremo. Isso é que é escandaloso. Enquanto o Judiciário não for uma instituição democrática, enquanto favorecer a posição de classe, não podemos dizer que estamos numa democracia.
O que mais preocupa você na atualidade, seja literária ou pessoalmente?
O que eu faço é tão modesto, não tenho muita pretensão. O que o escritor mais quer? Ganhei todos esses prêmios – Jabuti, Portugal Telecom, Associação Paulista dos Críticos de Arte, Bravo! –, mas o que mais me interessa é ter bons leitores. Se possível muitos, pois me ajuda a viver. Mas meus livros são bem traduzidos. O "Cinzas do Norte" acaba de ter uma repercussão maravilhosa na Alemanha, na Inglaterra teve críticas maravilhosas, que vão aparecer até na quarta capa da edição de "A cidade ilhada".
O que o escritor mais quer é ter leitores. A qualidade do leitor é que interessa para a sobrevida do livro. O leitor de livros de auto-ajuda não me interessa. A auto-ajuda é uma praga dos nossos tempos. Há várias: os programas de TV, de modo geral, são tristes, deixam muito a desejar. E no jornalismo, de modo geral, a literatura ocupa um espaço muito exíguo. Nem posso reclamar, pois os professores trabalham muito com meus livros, do Rio Grande do Sul ao Amazonas, sempre estão nos vestibulares.
O que me preocupa é a qualidade da educação pública. Há um esforço para melhorá-la, mas a situação é tão dramática que será necessário muito tempo para corrigir isso. É impressionante como os jovens perderam a capacidade crítica, a intimidade com a linguagem, com a gramática, com a sintaxe, com a própria língua portuguesa.
Há uma conexão entre as duas coisas, não?
Claro, pois se você escreve e fala mal, também pensa de forma deficiente. A linguagem escrita é uma expressão de seu pensamento. Se você fala mal, escreve mal, está condenado a ser uma pessoa limitada. E isso é um círculo vicioso e terrível, pois os professores ganham mal, não têm tempo para se dedicar às suas aulas, a maioria dos alunos não têm condições de se manter na escola, vive uma vida miserável.
Acho que só informatizar as escolas não resolve, você tem de qualificar os professores, exigir deles qualidade de ensino, e pagar bem, pois de outra forma eles não são motivados. Esse acho que é um dos impasses do Brasil: a educação pública que foi totalmente desestruturada durante a ditadura. Foi um dos grandes crimes do regime militar.
Só para concluir, ao lado do novo livro prestes a sair, você está com outros projetos em mente?
Sim, quero publicar um livro de crônicas este ano ainda. Aí acaba a história de dez, cinco anos entre um livro e outro! (risos) Ou então minha trajetória foi mesmo na contramão. A ideia é selecionar crônicas da "Entrelivros", do "Caderno 2", uma ou outra do jornal "A Crítica", e outras esparsas que publiquei em coletâneas e outras revistas. Sairia diretamente em livro de bolso, pela Companhia de Bolso (selo da Companhia das Letras). Não quero nem que saia em brochura normal, mas que saia barato logo.
"A cidade ilhada", a sair após o Carnaval pela Cia. das Letras, com fotografia de capa de Luiz Braga, reúne 14 narrativas curtas de Hatoum, escritas de 1990 aos dias atuais. Seis delas são inéditas; outras oito, publicadas anteriormente em jornais e revistas literárias, foram reescritas especialmente para o novo livro, algumas de forma tão drástica que ganharam até novos títulos – caso de "Natureza ri da cultura", nova versão de um conto publicado originalmente na "Revista da USP" como "Reflexão sobre uma viagem sem fim".
"Natureza ri da cultura" é o conto mais antigo da seleção. O mais recente se intitula "Dançarinos da última noite", e foi publicado anteriormente na extinta revista "Entrelivros". Em algum ponto entre os dois escritos estão, entre outros, "Varandas da Eva", "Uma carta de Bancroft", "Bárbara no inverno" e "Encontros na península" – este definido por Hatoum como um "conto machadiano", cheio de referências à obra de Machado de Assis.
As cidades amazônicas são o cenário comum a todos os romances de Hatoum. Seus contos, por sua vez, são ambientados em diversos lugares do mundo, entre eles Rio de Janeiro, Bombaim, Berkeley e Palo Alto (ambas na Califórnia), Paris. "Mas o ponto de partida ou de chegada é Manaus", destaca o escritor.
Além do já citado "Relato de um certo Oriente", Milton Hatoum é autor de "Dois irmãos" (2000), "Cinzas do Norte" (2005) e "Órfãos do Eldorado" (2007). Pelas três primeiras obras ele recebeu o prêmio Jabuti, mais importante premiação literária brasileira. Foi ganhador ainda dos prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Bravo! e Portugal Telecom.
Ainda este ano, o escritor espera lançar um livro de crônicas, que incluirá textos publicados em jornais como "O Estado de S. Paulo" e "A Crítica".
Confira abaixo a íntegra de uma entrevista concedida pelo escritor ao jornal "A Crítica" em sua residência em Manaus, no último dia 23. Nela ele fala, entre outros assuntos , sobre "A cidade ilhada", sobre a publicação "tardia" de uma coletânea de contos, sobre seu processo de criação, sobre seus autores prediletos e sobre suas preocupações com o que ocorre no mundo e no Brasil.
***
Você estará lançando em breve um livro de contos chamado "A cidade ilhada", é isso?
É na verdade uma coletânea de 14 contos. Oito deles já tinham sido publicados, alguns no Brasil, outros no exterior, e outros seis são inéditos. Mas, mesmo os já publicados foram reescritos, e posso considerar inéditos. Até o título de alguns eu mudei.
Qual o intervalo entre mais antigo e o mais recente?
O primeiro é de 1990, é um conto chamado "Reflexão sobre uma viagem sem fim", que foi publicado na "Revista da USP" e em várias antologias no exterior, na Alemanha, nos Estados Unidos, na França. Depois, o título mudou para "Viagem sem fim" e agora, neste livro, o título é "Natureza ri da cultura". Já o último se chama "Dançarinos da última noite", que foi originalmente publicado como uma crônica na revista "Entrelivros", mas achei que podia transformar num conto, então reescrevi e incluí no livro. E tem um muito recente, totalmente inédito, foi lido num simpósio internacional sobre Machado de Assis no Masp, em agosto. Fui convidado a fazer uma saudação ao Machado, e em vez de fazer algo solene, fiz um conto machadiano, com referências a ele, que se chama "Encontros na península".
Por que você achou necessário reescrever alguns contos?
Quando eu reli os que já haviam sido publicados – e por isso não releio romances –, achei que podia melhorá-los, dar mais concisão, mais cor.
O título "A cidade ilhada" é uma referência metafórica a Manaus, ou apenas o nome de um dos contos?
Tem um conto chamado "A casa ilhada", então o título não é o nome de um dos contos. Pode ser Manaus, pode ser a vida dos personagens, ou na verdade qualquer cidade. Mas a primeira cidade que vem à memória dos leitores é Manaus. Que ainda é, geograficamente, uma cidade ilhada por rios, florestas. E péssimas estradas.
Há uma linha comum ou fio condutor entre os textos?
Os contos, de alguma forma, dialogam com os romances, todos os quatro. Há alguns personagens dos livros que aparecem nos contos, ou às vezes há uma afinidade espacial, temática. Mas tentei trabalhar com a ideia do conto moderno, que não opera com uma surpresa final, como era o conto do século 19. O conto moderno, do século 20, narra duas histórias paralelas e, no fim, revela o significado oculto de uma das duas histórias. Você começa contando uma coisa que não é aquilo que você quer narrar, como se houvesse uma história narrada que é retrabalhada numa outra história, que é a que você quer trabalhar.
É também uma forma de surpresa para o leitor.
Sim, porque nesse processo de histórias paralelas se revela uma coisa importante.
E as histórias falam sobre o quê?
A editora que escreveu a orelha do livro falou que os narradores são viajantes. As histórias se passam no Rio de Janeiro, Paris, Palo Alto e Berkeley, na Califórnia, Bombaim, mas o ponto de partida ou de chegada é Manaus. Há um espaço mais ou menos difuso dos contos, eles não acontecem inteiramente no Amazonas, talvez dois ou três sim, mas os outros são narrativas "viajantes", que apontam para outros lugares, outras cidades, outras situações e realidades fora de Manaus. Quando reescrevi, tentei adensar essas narrativas, e o segredo é esse. O Tchekov dizia que quando você escreve um conto, tem de reler, suprimir o começo e o fim e deixar o miolo. Ele tem de manter a tensão e a atenção, tem de tensionar o tempo todo os personagens, as situações e conflitos.
Não sei se digo algo errado, mas o conto parece ser o caminho mais natural do desenvolvimento de um escritor. Foi diferente com você, que escreveu quatro romances antes de publicar este primeiro livro de contos. Como foi sua trajetória, nesse sentido?
Fui na contramão da carreira da maioria dos escritores, que começam publicando contos. Comecei, também, publicando contos, nos anos 70, mas não publiquei. Ainda bem, porque eram imprestáveis. Depois achei que tinha assunto e escrevi "Relato de um certo oriente". Curiosamente, abandonei a idéia de um livro de contos. Eles foram saindo, mas mais a pedido de jornais. Escrevi dois para o "Caderno 2" do "Estadão", outro para uma revista francesa, que saiu numa coletânea pela Gallimard. De fato, eu não tinha como objetivo sentar e escrever um livro de contos, eles foram acontecendo, sem nenhuma periodicidade.
Também me parece que desde o lançamento do "Relato", o tempo entre os lançamentos de seus livros vem diminuindo. Você vem se dedicando mais a escrever, é isso?
Estou amadurecendo, eu acho! (risos) Mas se for ver, o livro de contos já está na maioridade, tem mais de 18 anos. Mas não estou mais rápido, não acredito nisso. O "Órfãos do Eldorado" escrevi em dois anos porque tinha assinado um contrato para terminar, fui pressionado para concluir. Tinha de entregar, consegui visualizar o livro e me dediquei integralmente a ele. Como não é também uma ficção muito longa, tem cem páginas, pude me concentrar e ir até o fim.
Em termos de tempo, escrever contos sem dúvida é mais fácil, mas dá para comparar a dificuldade entre escrever um conto ou um romance?
São gêneros muito diferentes. O romance pede muitas digressões, um texto extenso, e um desdobramento de conflitos e personagens que são inadequados ao conto, exatamente por este ser uma forma concisa. Ele é breve, trabalha a tensão e o significado. O Julio Cortázar tem uma bela definição: ele diz que o conto é uma fotografia, e o romance, um filme. O conto, ele fala, é como uma pequena esfera perfeita, que encerra um significado e uma tensão permanentes. Acho que um dos grandes mestres do conto foi o Machado, que foi o primeiro contista que li na juventude, numa coleção que até ainda está na minha casa. É de 1957, o famoso "Clássicos Jackson", de capa dura, hoje se encontra em qualquer sebo por uma bagatela, mas era uma coisa linda na época. A fonte era em tamanho grande, dava prazer de se ler.
Além de Machado e Cortázar, que outros escritores você considera fundamentais no gênero conto?
Maupassant foi um mestre no conto. Edgar Allan Poe, que criou o conto policial. O Jorge Luis Borges é um contista excepcional, porque inovou a narrativa breve na América Latina. Guimarães Rosa tem contos extraordinários. A Katherine Mansfield é outra mestra. Joyce escreveu "Os dublinenses", que para mim é uma das obras fundamentais dele. O Tchekov tem contos geniais, quem quer escrever contos tem de ler o Tchekov, o Machado, os clássicos do século 19.
Quando você está no processo de escrever um conto, essa herança de todos os que vieram antes fica pairando na sua mente?
Às vezes até mais que isso, eles entram na minha cabeça mesmo. Por exemplo, o conto machadiano "Encontros na península", tem inclusive referências aos contos de Machado. O conto é uma indagação sobre a qual conto de Machado o meu está se referindo. É um conto dentro de um conto – não gosto de chamar de "intertextualidade", pois vão me chamar de esnobe, e eu não gosto disso, então pode tirar esse "palavrão", ou jargão da teoria literária.
Além dos contistas, que outros autores estão nos seus livros de cabeceira? E também, da nova geração, quem você destaca?
Dos estrangeiros, descobri um narrador muito bom, que já morreu há mais de 60 anos, Sándor Marai, húngaro, que tem um romance chamado "As brasas". Só agora ele está sendo traduzido no Brasil.Gosto muito também de um autor alemão chamado W. Sebald, li dois romances dele, são meio proustianos, falam da memória, "Os imigrantes" e "Austerlitz".
Acho também que finalmente o Brasil descobriu e traduziu um autor de que sempre gostei, Roberto Bolaños, que considero o autor latino-americano mais importante da minha geração. Li quase tudo dele. Tem um livro de contos chamado "Putas assassinas" que é maravilhoso. Ele morreu jovem, foi um expatriado, deixou o Chile para morar no México, depois foi morar na Europa. Seus personagens vivem em trânsito, são sempre poetas, muitas vezes não-realizados, e o sentimento de exílio, de expatriação, é muito forte na obra dele.
Também há os autores portugueses, como o Gonçalo Tavares, até escrevi uma orelha de um livro dele que saiu agora.
E dentre os brasileiros?
Dos mais jovens, gosto muito do Bernardo Carvalho. Li recentemente também o romance de uma moça bem jovem, "A chave de casa", de Tatiana Levy. E gostei. Mas não consigo acompanhar muita coisa, na verdade.
Como é sua rotina de trabalho como escritor? Você tem o que se chama "inspiração"?
Tenho primeiro de cumprir minhas obrigações de escrever crônicas para o Terra Magazine e para o "Caderno 2" do "Estado de São Paulo". Com inspiração ou não, tenho de fazer. Mas é curioso: um conto surge como uma febre, você não sabe quando vem, que tipo de infecção é. Surge a ideia, e você tem de escrever. Ele é incondicional, não pode ser adiado. Se você tem uma ideia delineada, tem de tentar. Talvez nem seja nada, talvez seja uma crônica, ou só uma ideia, e literatura não se faz de ideias. O conto é o que o Manuel Bandeira chamava de "alumbramento", um belo nome que ele dava para a inspiração. A inspiração, acho, é uma outra forma de dizer "desejo de escrever". Quando você tem desejo de escrever, está inspirado. Quando empaca muito, é melhor fazer outra coisa, e esperar que surja esse "alumbramento".
Como você lida com a tecnologia – o boom de informações, a Internet, geladeiras que falam?...
Sou um péssimo internauta, trabalho para portais, mas não sou um navegador – é assim que se diz? – compulsivo. Mas em situações que merecem uma análise da realidade mais profunda e menos parcial, vou à Internet. Por exemplo, quando o assunto é o Oriente Médio, quero ler o "Le Monde Diplómatique", pois lá sei que não vão chamar os palestinos de terroristas. Sei que muitos intelectuais acreditam que existe terrorismo de Estado, que é mais nocivo e devastador. Se eu quiser saber mais de política americana, não vou ler o "Washington Post", vou ler o "The Nation".
E sobre os escândalos da política nacional? Pode-se confiar nos jornais de forma geral?
Isso está em todos os jornais. Mas a grande mídia, penso, não gosta do Lula, porém ele tem uma aceitação tão grande que não sei se está preocupado com isso. Para o Amazonas, ele tem sido um presidente no mínimo atencioso – dos últimos, ele foi mais. Ele conhece o Amazonas, conhece o Acre, as mulheres catadoras de babaçu no Maranhão. Mas há tantos escândalos que a gente não se impressiona mais. O triste, para mim, não é a política nacional, é ver o banqueiro Daniel Dantas ser solto pelo presidente do Supremo. Isso é que é escandaloso. Enquanto o Judiciário não for uma instituição democrática, enquanto favorecer a posição de classe, não podemos dizer que estamos numa democracia.
O que mais preocupa você na atualidade, seja literária ou pessoalmente?
O que eu faço é tão modesto, não tenho muita pretensão. O que o escritor mais quer? Ganhei todos esses prêmios – Jabuti, Portugal Telecom, Associação Paulista dos Críticos de Arte, Bravo! –, mas o que mais me interessa é ter bons leitores. Se possível muitos, pois me ajuda a viver. Mas meus livros são bem traduzidos. O "Cinzas do Norte" acaba de ter uma repercussão maravilhosa na Alemanha, na Inglaterra teve críticas maravilhosas, que vão aparecer até na quarta capa da edição de "A cidade ilhada".
O que o escritor mais quer é ter leitores. A qualidade do leitor é que interessa para a sobrevida do livro. O leitor de livros de auto-ajuda não me interessa. A auto-ajuda é uma praga dos nossos tempos. Há várias: os programas de TV, de modo geral, são tristes, deixam muito a desejar. E no jornalismo, de modo geral, a literatura ocupa um espaço muito exíguo. Nem posso reclamar, pois os professores trabalham muito com meus livros, do Rio Grande do Sul ao Amazonas, sempre estão nos vestibulares.
O que me preocupa é a qualidade da educação pública. Há um esforço para melhorá-la, mas a situação é tão dramática que será necessário muito tempo para corrigir isso. É impressionante como os jovens perderam a capacidade crítica, a intimidade com a linguagem, com a gramática, com a sintaxe, com a própria língua portuguesa.
Há uma conexão entre as duas coisas, não?
Claro, pois se você escreve e fala mal, também pensa de forma deficiente. A linguagem escrita é uma expressão de seu pensamento. Se você fala mal, escreve mal, está condenado a ser uma pessoa limitada. E isso é um círculo vicioso e terrível, pois os professores ganham mal, não têm tempo para se dedicar às suas aulas, a maioria dos alunos não têm condições de se manter na escola, vive uma vida miserável.
Acho que só informatizar as escolas não resolve, você tem de qualificar os professores, exigir deles qualidade de ensino, e pagar bem, pois de outra forma eles não são motivados. Esse acho que é um dos impasses do Brasil: a educação pública que foi totalmente desestruturada durante a ditadura. Foi um dos grandes crimes do regime militar.
Só para concluir, ao lado do novo livro prestes a sair, você está com outros projetos em mente?
Sim, quero publicar um livro de crônicas este ano ainda. Aí acaba a história de dez, cinco anos entre um livro e outro! (risos) Ou então minha trajetória foi mesmo na contramão. A ideia é selecionar crônicas da "Entrelivros", do "Caderno 2", uma ou outra do jornal "A Crítica", e outras esparsas que publiquei em coletâneas e outras revistas. Sairia diretamente em livro de bolso, pela Companhia de Bolso (selo da Companhia das Letras). Não quero nem que saia em brochura normal, mas que saia barato logo.
Palavras-chave:
contos,
literatura,
livros,
Machado de Assis,
Manaus,
Milton Hatoum
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Retomada
Olá amigos!
Em primeiro lugar, pedimos desculpas pelo lamentável abandono do blog durante quase um ano – o último post até agora foi de maio do ano passado!
Mas este é um post morde-assopra: estamos retomando este espaço e muito em breve teremos novos posts – novidades, notícias, entrevistas e por aí vai.
Já nas próximas horas, teremos aqui uma interessante entrevista, feita originalmente para o jornal "A Crítica", na qual Milton Hatoum fala sobre seu novo livro, a coletânea de contos "A cidade ilhada", prestes a chegar às livrarias.
Aos colaboradores (não é linguagem corporativa!): estamos de volta ao trabalho, macacada!
É isso! Bem-vindos de volta! =)
Em primeiro lugar, pedimos desculpas pelo lamentável abandono do blog durante quase um ano – o último post até agora foi de maio do ano passado!
Mas este é um post morde-assopra: estamos retomando este espaço e muito em breve teremos novos posts – novidades, notícias, entrevistas e por aí vai.
Já nas próximas horas, teremos aqui uma interessante entrevista, feita originalmente para o jornal "A Crítica", na qual Milton Hatoum fala sobre seu novo livro, a coletânea de contos "A cidade ilhada", prestes a chegar às livrarias.
Aos colaboradores (não é linguagem corporativa!): estamos de volta ao trabalho, macacada!
É isso! Bem-vindos de volta! =)
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Jeff Scott Soto: "o Tempestt é minha banda de hard rock preferida!"
A primeira vez que eu ouvi falar do Jeff Scott Soto, ele estava perto de mim. Lembro bem que era dia 4 de novembro de 2005 (sou meio psicopata em decorar datas), e eu estava no Manifesto Bar, em São Paulo, onde assistia a um show da MindFlow acompanhada de um ex-namorado (que não estava no palco, ok). No intervalo de uma música, o Danilo (vocalista) vira e fala: "Quero deixar registrada a presença de alguém muito importante aqui nesse bar: Jeff Scott Soto!".
Eu viro e pergunto: "WHO THE FUCK IS JEFF SCOTT SOTO?"
Meu então namorado vira pra mim e diz: "É o cara que dublou o Mark Whalberg em 'Rock Star'!". Ah sim... "Rock Star" era um filme que eu e meu pai havíamos visto repetidas vezes na HBO em tardes de domingo ociosas... mas toda vez que passava, corríamos para assistir de novo.
Jeff Scott Soto dá um tchauzinho singelo de seu camarote e não desce para dar uma canja ao lado dos meus (agora) estimados amigos da MindFlow.
Três anos depois, eu me vejo na iminência de mais um encontro com o americano, desta vez, mais palpável. Soto desta vez vem à minha terra protagonizar ao lado do Tempestt duas noites de hard rock no evento denominado "Cover Night", que acontece dias 21 e 22 no Porão do Alemão. Serão dois tributos, na verdade: dia 21 (quarta) o Tempestt primeiro apresenta algumas músicas próprias e em seguida se firma como banda de apoio para que Soto comande o tributo ao Queen. No dia seguinte (22, quinta), o Tempestt faz tributo ao Journey (haja amor, o vocalista tem até tatuado "Don't Stop Believin'" no braço...) e novamente Soto manda ver na homenagem ao Queen.
Para quem não conhece, Tempestt é uma banda de hard rock paulista. Na-na-ni-na-não, não me venha com preconceitos: nada lembra Whitesnake, Bon Jovi, Kingdom Come. Para mim não seria ruim se assim fosse, pois admiro todos estes artistas que citei, mas sei que tem gente que ojeriza o som chiclete romântico levado por eles. O fato é que Tempestt é mais pesado, com claras influências de metal progressivo. E fazendo a felicidade geral da nação, os riffs ficam fácil na cabeça, assim como os refrões.
O CD "Bring 'Em On", cujas faixas serão apresentadas ao público amazonense na quarta, é TODO ótimo. Juro: acho que no máximo uma música pode ser considerada meio enjoativa, mas a maioria absoluta é fantástica. "Faked By Time", "Bring 'Em On", "A Life's Alibi", "Insanity Desire" (na qual Soto divide os vocais com B.J), "Too High", "Fallen Moon", caraca, são todas ótimas.
Dessa dobradinha vai sair hard rock de qualidade facilmente. Para encurtar essa conversa que já tá longa demais, Jeff Scott Soto respondeu algumas perguntas minhas por e-mail e usei o que pude no jornal, mas como o leitor deste blog deve ter percebido, tudo quanto é sobra vem para cá. Com vocês, Jeff Scott Soto em entrevista exclusiva.
1) Como você veio a conhecer o trabalho do Tempestt?
Conheço os caras desde a minha primeira visita a São Paulo, em 2002, quando fui para lá fazer dois shows. Me perguntaram se eu poderia usar uma banda local para me acompanhar e fiquei um pouco preocupado, pois meu som não é para músicos medianos. Depois de ouvir dois mp3 do Tempestt, me convenci que eles tocariam meu material com facilidade. Foi uma surpresa mais prazerosa ainda eu ter chegado em São Paulo para os ensaios e ter descoberto que eles haviam aprendido tudo com perfeição! Desde então, tenho convidado o Tempestt para ser minha banda de apoio para todos os shows que voltei para fazer em São Paulo. Eles são meus irmãos e eu os acho ótimos!
Não se trata bem de uma parceria, é mais uma confiança que tenho neles e que eu quero que o resto do mundo conheça o quanto antes. Nestes dias, é muito difícil achar público para bandas novas, então eu tento usar minha própria base de fãs e influências para ajudá-los a serem reconhecidos.
3) Com o Tempestt você tem protagonizado tributos ao Queen. Como músico, fale da sua relação com a banda de Freddie Mercury.
Freddie e o Queen representam uma influência enorme na minha vida musical tanto pelas suas gravações quanto pela presença de palco. Queen me deu uma inspiração maior que a vida e que formou o artista que eu sou, a presença de palco do Freddie é algo que maioria dos cantores tenta imitar com perfeição. A maestria de segurar um público de 60 mil pessoas na palma da mão era simplesmente incrível! Me orgulho de conhhecer os caras do Queen, assim como de tocar suas músicas sempre que tenho a oportunidade!
4) Como foi a escolha do repertório: você deu prioridade a suas músicas favoritas ou às que mais fizeram sucesso entre os fãs?
Claro que foi um pouco dos dois. Me dei conta de que nem todos os fãs que vão a estes shows conhecem músicas que não foram hits, então eu tento prover uma boa mistura especialmente porque tocar apenas os hits, a maioria das bandas covers faz isso. Não quero me assemelhar a uma banda cover, quero que as pessoas não só se divirtam com também apreciem as muitas cores da carreira do Queen.
5) Ainda que os tributos sejam uma parte vital dessa turnê, o que você tem a dizer do trabalho autoral do Tempestt?
Eles são minha banda de hard rock preferida no momento. Pra falar a verdade eu não ouço hard rock novo, mas o Tempestt é tão bom que os caras são uma exceção no meio do que eu gosto de ouvir por conta das músicas, performances e talentos individuais - que são enormes dentro da banda.
6) Nos shows, você divide os vocais com o B.J (vocalista do Tempestt)?
Ainda não sei até que ensaiemos antes do primeiro show. Ainda não arquitetei um dueto, mas talvez role em "Under Pressure"!
7) Você teve contato com outras bandas brasileiras depois de ter conhecido o Tempestt? Se sim, quais?
Pra falar a verdade não. Conheci muitos músicos depois que comecei a ir ao Brasil, mas não fiz nenhuma jam com eles ou conheci um número grande de bandas.
8) Você acha que o hard rock, um ritmo que muita gente acredita ter ficado perdido nos anos 80, pode ser reinventado nos dias atuais?
Vai sempre estar vivo, para sempre. Apenas em níveis diferentes de popularidade, mas você pode atestar isso pelos números nos shows de rock, porque as pessoas vão aos shows. O rádio e a MTV tiveram uma grande influência durante os anos 80, o que fez com que as pessoas pensaram que, depois destes terem abandonado este ritmo, ele havia acabado. Isso não é verdade de forma alguma! Agora só demora um pouco mais para que chegue até as pessoas e seja ouvido, mas o gênero está bem vivo e bombando! (é a tradução mais literal para "very much alive and kicking! hehehe)
9) Para terminar, o que o pessoal do Amazonas pode esperar da sua visita com o Tempestt?
Não tenho idéia do que esperar, nunca fui aí antes então é sempre meio assustador tocar em um lugar totalmente novo porque você fica se perguntando se haverá público ou fãs. Mas para aqueles que aparecerem, estou ansioso para tocar para vocês, nós vamos nos divertir bastante! Nos vemos em breve, JSS.
...
Até semana que vem, Jeff!
Jeff Scott Soto & Tempestt
Onde: Porão do Alemão
Quando: 21 e 22 de maio, 22h
Quanto: Para o dia 21, que é só pista: 30 conto (inteira) e 15 conto (meia). Para o dia 22, que é só mesa: 70 conto.
Vendas: Japurá Pneus, Amazon Bowling (Studio 5 e Adrianópolis) e Porão do Alemão
Info: 8151-0201 / 3642-1313
"CARE BOUT NO ONE ELSE BUT YOUUUUUUUUUUUUU..."
(Too High, Tempestt)
9) Para terminar, o que o pessoal do Amazonas pode esperar da sua visita com o Tempestt?
Não tenho idéia do que esperar, nunca fui aí antes então é sempre meio assustador tocar em um lugar totalmente novo porque você fica se perguntando se haverá público ou fãs. Mas para aqueles que aparecerem, estou ansioso para tocar para vocês, nós vamos nos divertir bastante! Nos vemos em breve, JSS.
...
Até semana que vem, Jeff!
Jeff Scott Soto & Tempestt
Onde: Porão do Alemão
Quando: 21 e 22 de maio, 22h
Quanto: Para o dia 21, que é só pista: 30 conto (inteira) e 15 conto (meia). Para o dia 22, que é só mesa: 70 conto.
Vendas: Japurá Pneus, Amazon Bowling (Studio 5 e Adrianópolis) e Porão do Alemão
Info: 8151-0201 / 3642-1313
"CARE BOUT NO ONE ELSE BUT YOUUUUUUUUUUUUU..."
(Too High, Tempestt)
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