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quarta-feira, 7 de maio de 2008

Viper: feijão com arroz

No dia 31 de maio, a banda paulista Viper – uma das primeiras a fazer power metal/melódico no Brasil – desembarca para mais uma visita à capital amazonense. Mais uma sim, porque foram tantas que já perdemos as contas. De fato é uma banda que tem público. Falo, no entanto, daqueles inveterados seguidores do Deus Metal, cabeças fechadas que resumem o gosto musical a dinossauros do ritmo e criticam todo e qualquer novo experimento que surja no mercado fonográfico. Esta é uma “qualidade” que eu não quero para mim: gostar de heavy metal, seja novo ou antigo, não significa se fechar para novidades. E eu sinto por quem faz isso.
De qualquer forma, os paulistas realizam show no Nostalgia Music Hall para divulgar o novo CD “All My Life” que marca seu retorno aos estúdios. Foram 10 anos de hiato. Sinceramente, eu acredito que uma década não foi suficiente para mudar o direcionamento do som do Viper, que continua se prendendo ao metal “feijão com arroz” que uma vez foi novidade lá em 1985. Hoje, não mais. É, menos mal para os metaleiros inveterados que cerram os ouvidos a qualquer novo experimento...
Como no jornal eu usei apenas um parágrafo da entrevista que fiz com o guitarrista Felipe Machado, eis aqui as “sobras” da nossa conversa.

1.O Viper está em turnê para divulgar o CD "All My Life". O que diferencia este trabalho dos anteriores? Quanto tempo demorou para ser gravado?

Esse trabalho foi realmente como começar de novo, como se fosse o nosso primeiro disco. Estávamos afastados há muito tempo, quase dez anos, então tivemos que ‘reaprender’ a tocar em estúdio, a descobrir como as músicas e os arranjos podem ficar melhores. Outra coisa que foi diferente é que, desde o primeiro disco, ‘Soldiers of Sunrise’, de 1987, nunca mais havíamos gravado em São Paulo, nem com produtores brasileiros. (‘All My LIfe’ foi gravado no estúdio Ultra-sônica, em São Paulo, e produzido por André Cortada e Marcos Yukio). Foi uma diferença grande, porque trabalhar com os gringos é bastante diferente, tanto no nível profissional quanto no pessoal. Gravamos durante quase um ano, em períodos diferentes, em meio a shows e outros projetos pessoais. Ficamos muito felizes com o resultado, e agora estamos planejando o lançamento mundial do disco. Em maio, por exemplo, ele sai no Japão e em outros países da Ásia, como Tailândia, e também já saiu na Argentina.

2. Algumas bandas formadas no inicio dos anos 90, final de 80 têm adaptado seus estilos com elementos mais "modernos", como batidas eletrônicas. Vocês se consideram uma banda tradicional ou aberta a novos direcionamentos?

Nós estamos sempre abertos a novos estilos, como já provamos nos discos anteriores (será?). Sempre gostamos de mudar de disco para disco, adaptar nosso estilo não ao que está na moda no momento, mas ao estilo musical que estamos ouvindo ou às novas influências que incorporamos. Em ‘All My Life’, no entanto, quisemos seguir o estilo criado pelo próprio VIPER dos primeiros discos, um estilo pesado mas bastante melódico, com boas harmonias e solos de guitarra. Nunca usamos baterias eletrônicas, embora eu goste muito de bandas como Nine Inch Nails e Prodigy. Mas não cabe no estilo do VIPER, não somos tão modernos assim... (SEMPRE SOUBE DISSO!)

3. A banda já veio diversas vezes a Manaus. O que fará do show do dia 31/05 especial, diferente? Podem citar algumas músicas que certamente estarão no repertório?

Já fomos várias vezes a Manaus e é sempre diferente, mesmo quando o repertório é parecido. Desta vez vamos poder apresentar muitas músicas novas, já que o disco já saiu e o público já conhece um pouco. Das vezes passadas, tocamos apenas as mais clássicas, antigas, etc., mas agora vamos poder mostrar ‘All My Life On the Road’, que é a turnê que mistura as antigas com as músicas do novo disco. Não faltarão novas como ‘Come on Come on’ e ‘Violet’, nem as tradicionais como ‘Living for the Night’, ‘Rebel Maniac’ e ‘Evolution’. E o show tem ainda um cenário novo, efeitos novos.. muita coisa legal. Esperamos que o público de Manaus queira nos reencontrar, tanto quanto queremos reencontrá-los.

...


Então tá, então.

VIPER ALL MY LIFE TOUR

Locais de Venda: Daray (Amazonas Shopping), CCMT (Constantino Nery, em frente ao antigo Olímpico), Importadora Carioca (Centro) e Street Company (Leonardo Malcher).

Informações: 9187-0820 ou 9161-5011

sábado, 12 de abril de 2008

Kid Vinil: dinossauros, mitos y otras cositas más

A propósito do post anterior do Omar Gusmão, lembrei de uma recente coletiva de que participei com o Kid Vinil – e que na verdade foi mais uma entrevista informal e bem humorada dele comigo e com um jornalista de um site de que não me recordo. Além de gente boníssima, Kid é músico, DJ, radialista, ex-integrante do Magazine – grupo de rock dos anos 80 que legou canções como "Eu sou boy" e "Tic tic nervoso" –, foi o grande divulgador do punk rock no Brasil, e ainda hoje é um dos caras mais antenados com o que rola na cena alternativa da música brasileira e mundial.

Para Kid, há artistas e bandas que têm valor em sua época, e só, enquanto outros atravessam as décadas e gerações: "Tem bandas-dinossauros que eu gosto do início da banda, e não consigo mais vê-los depois (...) e tem coisas que ultrapassam a barreira do gostar– são mitos", afirma o roqueiro. No primeiro grupo, entre outros, ele inclui o Deep Purple – que fez show em São Paulo há poucas semanas e que se apresenta em Manaus em breve.

"Era uma banda de que eu gostava nos anos 70, até certo ponto, e depois não gosto mais. Nos anos 70, acho eles impecáveis. Nos 80, já não me interessou mais. É o tipo da banda que eu não iria ver o show", comenta ele.

Já no grupo dos mitos, Kid inclui nomes de outras gerações, mas que até hoje mantêm acesa a verve musical. "Neil Young para mim é um mito, iria ver um show dele a qualquer momento. Lou Reed é um mito, David Bowie é um mito", enumera. "Tem coisas que permanecem, e outras não", conclui ele.

Mas Kid faz questão de ressaltar que, no final, tudo é uma questão de gosto. "Também [me considero um dinossauro], por isso não quero condenar. Uma pessoa pode falar, 'Ah, não gosto dele', e o outro pode gostar. Eu estou na mesma situação dos caras, mas aí é uma questão de gosto: quem gosta vai ver, quem não gosta não vai", reconhece ele.

Quanto a isso, Kid não tem muito com o que se preocupar: assim como outras figuras que fizeram sucesso há 20 anos ou mais, ele está na crista da onda graças ao movimento de resgate dos anos 80. Para ele, a tendência não só reabriu espaço para a galera da época, como vem ajudando a desfazer a idéia de que os 80 foram uma "década perdida".

"Foi meio que um reconhecimento, pois muitos chamavam de "geração perdida", geração não sei o quê, enfim, sempre criticava a geração 80. E, contrário a isso, foi uma coisa super resgatada, e que hoje é uma influência, não só aqui como lá fora, para a nova geração", afirma o radialista, lembrando que os anos 90 foram "meio embaçados" para o pessoal de sua época: "A gente saiu da mídia e tinha pouco espaço pra tocar. Comecei até a fazer atividades paralelas, trabalhei em TV, rádio, onde eu já trabalhava antes, e voltei a escrever em jornal, por falta de espaço".

O movimento de resgate que trouxe de volta Kid Vinil e seu Magazine colocou no mesmo barco ícones infantis, como Xuxa, e até cafonas, como Sidney Magal. Como explicar esse disparate?

"Na década de 80 existia uma diferença: galera de rock não gostava de rock, a gente não curtia coisa infantil porque era pra criança, não era o tipo de música que a gente gostava de fazer e tocar. Mas quem era criança naquela época ouvia a Xuxa, e fica deslumbrado de ouvir uma música dela. Vejo dessa maneira esse deslumbre das pessoas. No fim, você acaba até relaxando e cantando junto", avalia o DJ, lembrando que ele próprio demorou um pouquinho para se acostumar com a mistura.

"Uma época as pessoas pediam muito trash, tipo Sidney Magal ou Gretchen. A princípio ficava meio 'assim', mas comecei a fazer show nessa linha, em que todo mundo entrava no caldeirão, e pensei, 'Relaxa, a Gretchen é super gente fina, o Magal também'. Até comprei um CD da Gretchen, e quando me pedem eu toco. Magal não comprei, mas se rolar, tudo bem, não fiquei tão radical assim", conta ele, bem humorado.

O bom humor, aliás, que parece ser uma marca registrada de Kid, também é uma das coisas de que ele mais sente falta na música de hoje. "Às vezes fico me perguntando, 'Será que não tem mais nenhuma banda mais bem humorada?'. Parece que depois do desastre com os Mamonas Assassinas sepultaram, literalmente, o humor. Podem até existir bandas bem humoradas, mas não aparecem na mídia", comenta o radialista, que cita como grupos bem humorados de hoje o grupo paulista Cansei de Ser Sexy.

"Tem uma música que fala 'ah-lah-lah, ah-lah-lah', e é nonsense, mas é maravilhoso. Lá fora existe espaço para o bom humor, tanto que uma banda brasileira cantando em inglês, às vezes até mau inglês, faz sucesso, e o público brasileiro diz 'não' a ela. Aliás o público não, mas a mídia, pois se tocasse no rádio, as pessoas iam cantar 'ah-lah-lah' o dia inteiro", acredita Kid.

Ele cita ainda, na linha da música bem humorada, a paranaense Bonde do Rolê ("É um funk divertido, as letras são de sacanagem, do tipo, 'James Bond é veado, dá a bunda'", diz ele), a paulista Los Piratas e a matogrossense Jumbo Elektro.

Kid também lamenta a perda da sensibilidade musical por parte das gravadoras, na passagem dos anos 80 para os 90. "Nos anos 80 até que a indústria fonográfica ia atrás de descobrir as coisas, na Warner o Pena Schmidt ia atrás, descobriu o Ultraje a Rigor, o Ira!, Titãs. Sempre havia produtores ligados e antenados. Nos anos 90, a indústria virou uma coisa de ser sempre um cara que não conhecia de música, era um cara de marketing, e como era de marketing, não precisava conhecer música. Meio que destruíram a música brasileira em geral com aquela coisa de querer produtos de massa – pagode, sertanejo de dor de cotovelo. Eles foram criando esses monstros de massa, e isso foi matando o cenário da música brasileira", critica o roqueiro.

Mesmo sendo de uma outra geração, Kid mantém os olhos muito abertos para o presente, e também para o futuro. Ele reconhece, por exemplo, que a música digital veio para ficar, e está investindo no segmento com seu projeto Kid Vinil Xperience.

"Estamos fazendo coisas para colocar na Internet, não CD. O futuro é meio que por aí. Criamos um site no MySpace, que já tem uma cover que fizemos como tributo, fizemos agora uma cover dos Beatles que vai sair num tributo a eles. E tudo que fizermos agora vamos lançar virtualmente, acho que essa coisa de lançar discos já pertence ao passado, infelizmente", reconhece o artista.

O fim anunciado do CD, segundo Kid, chegará ainda mais rápido no Brasil pela facilidade de se obter músicas via web e pela perda de poder aquisitivo do público. Para ele, os artistas têm de se adaptar à nova realidade.

"Hoje, o artista disponibiliza suas músicas, as pessoas baixam, ele faz sua divulgação e vai acontecer da mesma maneira. Não tem essa coisa de ter de ter um disco, as pessoas vão ao show dele e vão cantar as músicas que elas baixaram. O futuro é esse".

Egresso da AI-5, banda dos primórdios do punk nacional, Kid foi também uma figura-chave na difusão desse gênero musical no País, por meio de um programa de rádio semanal veiculado nos primeiros anos da década de 80.

"O punk era um movimento de periferia, as pessoas não tinham dinheiro, ouviam meu programa no rádio e gravavam em fitinha, e eu era aquele cara que podia viajar e trazer os discos. Dei sorte, porque no momento certo, na hora certa, comecei a fazer um programa de rádio que de certa forma se tornou um porta-voz de uma geração", declara ele.

Mais recentemente, Kid ajudou a divulgar no Brasil muito da música feita no cenário alternativo mundial, em parceria com a gravadora Trama – responsável por lançar artistas como Belle & Sebastian, Yo La Tengo! e Arctic Monkeys. Ainda hoje, para o radialista, um dos grandes prazeres de garimpar novas bandas e sonoridades é poder compartilhá-la com os outros, seja por meio do rádio, TV ou Internet, seja em festas, como DJ.

"Isso é gostoso fazer. É legal se sentir útil, poder mostrar coisas legais para outras pessoas, como na época do punk", confessa ele, que lamenta a falta de espaço nos veículos: "Adoraria ter um programa de rádio em que pudesse mostrar ao público todas essas coisas novas. Mas hoje o espaço na TV e no rádio é limitado, e o meu grande sonho era poder voltar a fazer isso. Às vezes me sinto um John Peel [radialista da BBC Radio 1], gostaria de ser eterno fazendo isso, nunca parar, mas é difícil no Brasil".