quarta-feira, 23 de abril de 2008

Assim assim... mas não é incrível como causou todo um auê?

Acho que a Loyana abalô-ô-ô, e a galera parô-ô-ô, mas tenho que discordar do comentário que ela postou aqui embaixo e dizer que não achei "Ça ira" tão espetacular assim não. É um espetáculo bonito em certos aspectos, e emocionante em alguns momentos, mas que peca por vários fatores. O principal deles, a meu ver, é a falta de unidade dramática – em boa parte, a montagem se resume a uma enfadonha narração ora poética, ora panfletária, verbalizada num tom afetadamente grave e solene por diversos corais e pelo Mestre de Picadeiro do circo que reencena a história da Revolução Francesa.

O grande protagonista do espetáculo, aliás, não é outra senão a própria Revolução. Porém, a grande narrativa que cobre desde a infância de Marie Antoinette até depois de sua morte por decapitação acaba se diluindo em cenas esparsas, que chamam mais atenção pelo visual do que pela narrativa ou pela fala dos personagens. O único elo de ligação entre elas são figuras como o Padre Revolucionário e o Agitador, além do próprio Mestre de Picadeiro e dos artistas da trupe circense.

As únicas personagens que têm momentos dramáticos são o rei Luís XVI e da rainha Marie Antoinette, que protagonizam as cenas mais emocionantes do espetáculo. Entre elas, as de Luís escrevendo ao seu primo da casa de Bourbon na Espanha e, mais tarde, sendo decapitado; e a de Marie Antoinette, na mesma situação, despedindo-se da vida. Todas as demais personagens têm pouca ou nenhuma participação na trama, e não atraem o menor interesse do espectador.

A MÚSICA não é o calcanhar de Aquiles, mas também não contribui muito para o espetáculo. Os fãs de Waters podem discordar de mim, mas a música do roqueiro não se destaca praticamente em nenhum momento. Finda a apresentação, não fica nenhum trecho dela na memória, sequer para assobiar. Sem sobressair nem comprometer, ela funciona tão bem quanto a trilha sonora incidental de um bom filme épico.

Entre os cantores, os destaques vão para Gabriella Pace como Marie Antoinette, e Leonardo Pace, como Luís XVI. Também marcou a participação de Geilson Santos, no papel de um escravo revolucionário das colônias francesas. Carmem Monarcha, como a Liberdade e a República, Eduardo Amir, como o Agitador, Thiago Soares, como o Padre Revolucionário, e Leonardo Neiva, como o Mestre de Picadeiro, cumpriram bem seus papéis – embora os últimos tenham lutado, em certos momentos, com as exigências de interpretação e de emissão vocal, o que levou ao uso ocasional de amplificadores, que no entanto soavam sempre de forma artificial.

APESAR DISSO, é preciso dizer que "Ça ira", enfim, é um espetáculo bem bonito de se ver. Dos figurinos de Olintho Malaquias aos cenários de Renato Theobaldo e à mise-en-scène, sob a direção de Caetano Vilela – tudo é perfeito. A montagem foi também é uma tour de force em termos de produção: são muitas pessoas em cena, entre integrantes de coros infantis e adultos, bailarinos da Companhia de Dança do Amazonas, artistas circenses e figurantes, sem falar do pessoal dos bastidores, dos músicos e cantores líricos, e por aí vai.

Mais importante ainda: todo o auê que causou a montagem de uma ópera de Roger Waters em Manaus ajudou também a chamar a atenção do público daqui e do Brasil inteiro para o Festival Amazonas de Ópera (FAO). Não quero soar demagógico, mas a cada ano o festival surpreende, pela escolha do repertório, pela ousadia das produções e pela criatividade das montagens. Graças a isso, Manaus é hoje sede de um dos dez mais importantes eventos de ópera do mundo, e o Teatro Amazonas vem ganhando mais destaque do que os teatros municipais do Rio de Janeiro ou São Paulo.

E isso, sem dúvida, é uma daquelas coisas que deixa qualquer um de nós, amazonenses, inchado de orgulho.

2 comentários:

Loyana Camelo disse...

Já sei porque tu tá falando mal do Ça Ira... assistiu com duas colunas na frente! Eu assisti linda na platéia, com o Roger Waters falando em português... hehehehe
não fica putinho porque foste gongado da estréia, meu bem :*

(continuo te amando mesmo vc sendo escroto comigo, seu merda)

Renata Paula disse...

Sério que tinha duas colunas? Nem percebi.. tava bem ao lado dele.

O ponto de maior destaque da ópera, eu acredito que seja a acessibilidade dele. Apesar de ter muitas questões políticas e históricas, é uma ópera fácil de entender..

Isso dá mais intimidade com o nativo Amazonense que não é acostumado a se interessar em eventos como esse na cidade.

;)